(Um blog do Agrupamento Vertical de Escolas de Aljezur)

29 de outubro de 2010

Os 255 anos do Grande Terramoto (Parte III)


Aqui fica uma selecção das respostas do prior de Aljezur ao inquérito ordenado pelo marquês de Pombal.

1.    Fica a vila de Aljezur em o reino e bispado do Algarve, comarca da cidade de Lagos, sendo termo e freguesia sua.
2.    É do sereníssimo rei de Portugal nosso senhor, comendador e alcaide-mor de seu castelo e marquês de Angeja que hoje existe.
3.    Tem vizinhos duzentos e noventa e três, a saber: a vila catorze e três e os mais nas herdades e casais do campo que compreendem mil e quarenta e quatro pessoas.
5.    Tem termo seu que compreende o lugar e freguesia de Odeceixe e tem vizinhos oitenta e três.
15.A maior abundância que os moradores recolhem é trigo, milho, feijão branco e fradinho e também em menos abundância centeio, cevada, ervilhas redondas e quadradas, favas, linho e vinho que abunda para a terra e generoso principalmente do sítio da regata.
19.Não tem feira.
20.Não tem correio.
21.(…) dizem as pessoas antigas que haverá noventa ou cem anos entravam nele caravelas e barcos cacilheiros e levavam trigo e dos mais frutos da terra chegavam perto da vila meio quarto de légua e como os tempos arcaram com inundação das águas a boca que lhe facilitava a entrada o não conseguem já hoje e só capaz de barcos pequenos de remos quando está cheio e nele se pesca robalos em abundância douradas, mugens, enguias e em alguns sítios boas amêijoas e em suas terras excelentes mexilhões.
26.No terramoto de mil setecentos e cinquenta e cinco padeceram muito as casas desta vila e se tem acudido a algumas e muitas estão no mesmo estado e da igreja matriz que caiu quase toda, só ficaram as paredes da capela-mor ainda que muito arruinadas abrigando a tribuna de entalho. Até ao presente não tem o comendador cuidado saber é (sic) suas obrigações para acudir ao preciso, tendo despertado os avisos que antes do terramoto se lhe tinham feito fundados nos repetidos clamores das visitas do ordinário e da ordem, eximindo-se com frívolas desculpas para acudir ao preciso e dourar a tribuna, promessa por seu avô já há vinte e cinco anos feita e por ele nunca acabada, e as ermidas de Santa Suzana, São Sebastião, Santo António, São Pedro estão quase no chão da ruína mencionada.

O prior de Aljezur, Martinho Pereira da Silva, 1758

É na sequência do Terramoto que se inicia a ocupação urbana das colinas que, fronteiras ao castelo, bordejam, a leste, a várzea de Aljezur. Afastando-se das ruínas da vila e do perfil mais acidentado do seu núcleo primitivo, o bispo D. Francisco Gomes de Avelar mandaria construir um templo naquele local. Era a designada Igreja Nova - a mesma que daria o nome ao novo núcleo urbano que, a partir dela, começaria a erguer-se.


Paulo Esteves

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