(Um blog do Agrupamento Vertical de Escolas de Aljezur)

28 de outubro de 2010

Os 255 anos do Grande Terramoto

Há 255 anos (que se completam no próximo dia 1) Aljezur - e o resto do país - acordava com um rugido vindo das entranhas da terra, "como o som de carruagens conduzidas com violência":  por três vezes, o chão tremeu com violência, enquanto, ao longe, o mar começava a avançar terra adentro.

Foi o maior dos desastres naturais de que há memória em Portugal. Terá provocado um número estimado entre os 10 e os 30 mil mortos - a maior parte dos quais em Lisboa. Falamos do Terramoto de 1755, o Grande Terramoto.

Gravura alusiva ao Terramoto em Lisboa
O epicentro do terramoto foi a sudoeste do Cabo de São Vicente, em local que é ainda hoje incerto. As hipóteses mais apontadas são as seguintes: o Banco de Gorringe, a 200Km de Sagres; a Falha da Ferradura, situada num dos extremos do banco de Gorringe; e a Falha do Marquês do Pombal, a 100km de Sagres.

BG – Banco de Gorringe; FF – Falha da Ferradura;
MP – Falha Marquês de Pombal; CSV – Cabo de São Vicente

À destruição provocada pelo terramoto, seguiu-se, em Lisboa, a provocada por um violento incêndio - era dia de todos os santos e nas igrejas as velas ardiam em grande número - e, por fim, a provocada pelo tsunami. Ondas gigantes galgaram a costa portuguesa, desde o Algarve, no Sul do país, até à costa oeste.


No Algarve, entre Lagos e Vila do Bispo, há vestígios de o mar ter entrado mais de 1Km dentro da costa (as ondas terão atingido entre 12 e 15 m), enquanto em Lisboa, se terá ficado pelos 250 m. adentro da cidade.



Os cientistas estimam que a magnitude do terramoto se tenha situado entre os 8,5 e os 9 na escala de Richter (o máximo até hoje registado nessa escala foi 9,5, no terramoto de 1960 ocorrido no Chile.

O grau de destruição em Portugal, sobretudo em Lisboa, capital do reino, impressionou muitos estrangeiros. Alguns estavam em Portugal e deixaram-nos relatos da tragédia. Voltaire, figura grande da cultura europeia da época, não se encontrava em Portugal, mas os relatos que lhe chegaram devem tê-lo impressionado vivamente, pois acabou por situar em Lisboa um dos capítulos das desventuras de Cândido, protagonista do seu livro "Cândido ou o Optimismo". É retirado daí o seguinte excerto:


“Mal puseram pé na cidade, (...), sentem a terra tremer-lhes debaixo dos pés; o mar ergue-se em cachão no porto e desfaz os navios que estavam ancorados; turbilhões de chamas e de cinzas cobrem as ruas e as praças públicas; as casas desabam, os telhados caem e os alicerces dispersam-se. Trinta mil habitantes, de todos os sexos e idades, ficam esmagados sob as ruínas. O marinheiro, assobiando e praguejando, dizia:

(...)

— Qual será a razão suficiente deste fenómeno?

— Isto é o fim do mundo! — exclamava Cândido.”


Dos sobreviventes, o mais ilustre de todos, o rei D. José I, não se recompôs do trauma de tal experiência: não voltaria a dormir sob tecto de pedra, indo instalar-se em tenda nos terrenos da Ajuda - a "barraca real", chamou-se-lhe.

Outro sobrevivente ilustre, Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro marquês do Pombal, ministro do reino, não faz eco do trauma. Mandou, ao que parece, "enterrar os mortos e cuidar dos vivos". Os mortos foram sepultados em valas comuns  e cobertos de alcatrão para evitar as epidemias - e até hoje, não se deu ainda com nenhuma dessas valas comuns. Aos vivos, se fossem salteadores, mandava-os enforcar de imediato. Mandou ainda iniciar a reconstrução da cidade, sob a orientação do engenheiro Manuel da Maia, segundo plantas que procuravam prevenir o risco sísmico futuro (o sistema das gaiolas) e que definiam um novo traçado geométrico.
Gravura representando Lisboa após o terramoto (ao centro um enforcamento)

Lisboa pombalina
Paulo Esteves

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