A nossa escola tem um antigo e honroso historial de participação no programa - sob a orientação dos professores Dionísio Silva e Luís Santos, conseguiu obter vários prémios, incluindo o primeiro lugar entre os projectos a concurso.
No ano lectivo passado, depois de alguns anos de ausência, regressámos àquele programa, com uma turma: o actual 6ºB.
Infelizmente, em ano de cortes orçamentais severos, não nos é possível a deslocação às três sessões de cinema programadas para o Auditório do Museu de Portimão. Todavia, temos vindo a atalhar caminho, apresentando, em contexto de aula, um programa de exibição de filmes do qual sobressaem duas ideias-chave:
- a construção de uma perspectiva diacrónica, que é a da própria história do cinema: já andámos com Cantiflas sobre os carris e fora deles na aventura desenfreada que é "The General", um Buster Keaton de 1927; havemos de ver e de ouvir a chegada da voz ao cinema e de visitar os esplendores da explosão da cor...
- a visitação ou revisitação dos géneros e das diversas linguagens cinematográficas: já espreitámos o musical, o documental, a animação (do desenho, ao computador, passando pelo stop-motion)...
Das experiências vividas queremos agora passar a dar conta. Com periodicidade a definir, passaremos a publicar aqui textos breves (escritos pelos alunos) com as impressões suscitadas pelo visionamento dos filmes.
Começamos por um western, visto esta semana: Shane.
Aguardem-nos.
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E porquê "Shane"?
Porquê "Shane", que não tem nem Ford, nem Hawks, nem Mann, mas um apenas competente George Stevens atrás da câmera; que não tem Gary Cooper, nem John Wayne, nem James Stewart, mas alguém (Alan Ladd) de quem se dizia que precisava de usar tacão alto para ficar à altura das actrizes com quem contracenava?
"Shane" em vez de "The Searchers"? "Shane" em vez de "Rio Bravo"? "Shane" em vez de "Bend of The River"?
"Shane" porque, embora sem poder ombrear com os melhores dos westerns, tem algo que o distingue: é o western da infância. O título é enganador: não é o pistoleiro que dá nome ao filme a personagem principal. É Joey, o rapaz cujos olhos tudo vêem desde o início, quando observam com curiosidade o cavaleiro solitário que se aproxima, até ao fim, quando perscrutam o rasto do mesmo cavaleiro, de novo solitário, a desaparecer na penumbra.
Entre esse início e esse fim, muito se passa. É o tempo da história ganhar corpo. De perceber que aquele cavaleiro solitário é um pistoleiro cansado, que Joey é o filho de um casal de agricultores em luta pela sua terra que é disputada por um barão de gado, que tudo se encaminhará para a redenção (ou diríamos melhor para o sacrifício?) do tal cavaleiro, Shane, o do título. Mas tudo nos terá passado ao lado se nos escapar o essencial. E isso está nos olhos de Joey.
É que as figuras maiores - herói e vilão (magnífico Jack Palance, primeiro corpo e expressão de BD a irromper pelo cinema em corpo de gente) - só naqueles olhos vivem, só neles crescem para nossa imensa credulidade. Porque é por esses olhos arregalados de espanto - olhos da nossa infância que tudo fazem possível - que tudo vemos, também nós, como num espelho. E por isso cremos. E amamos, com Joey, aquele cavaleiro solitário. Para no final podermos dizer, agora com Cesariny: "O navio de espelhos / não navega, cavalga / (...) Do princípio do mundo / até ao fim do mundo".
Paulo Esteves
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E porquê "Shane"?
Porquê "Shane", que não tem nem Ford, nem Hawks, nem Mann, mas um apenas competente George Stevens atrás da câmera; que não tem Gary Cooper, nem John Wayne, nem James Stewart, mas alguém (Alan Ladd) de quem se dizia que precisava de usar tacão alto para ficar à altura das actrizes com quem contracenava?
"Shane" em vez de "The Searchers"? "Shane" em vez de "Rio Bravo"? "Shane" em vez de "Bend of The River"?
"Shane" porque, embora sem poder ombrear com os melhores dos westerns, tem algo que o distingue: é o western da infância. O título é enganador: não é o pistoleiro que dá nome ao filme a personagem principal. É Joey, o rapaz cujos olhos tudo vêem desde o início, quando observam com curiosidade o cavaleiro solitário que se aproxima, até ao fim, quando perscrutam o rasto do mesmo cavaleiro, de novo solitário, a desaparecer na penumbra.
Entre esse início e esse fim, muito se passa. É o tempo da história ganhar corpo. De perceber que aquele cavaleiro solitário é um pistoleiro cansado, que Joey é o filho de um casal de agricultores em luta pela sua terra que é disputada por um barão de gado, que tudo se encaminhará para a redenção (ou diríamos melhor para o sacrifício?) do tal cavaleiro, Shane, o do título. Mas tudo nos terá passado ao lado se nos escapar o essencial. E isso está nos olhos de Joey.
É que as figuras maiores - herói e vilão (magnífico Jack Palance, primeiro corpo e expressão de BD a irromper pelo cinema em corpo de gente) - só naqueles olhos vivem, só neles crescem para nossa imensa credulidade. Porque é por esses olhos arregalados de espanto - olhos da nossa infância que tudo fazem possível - que tudo vemos, também nós, como num espelho. E por isso cremos. E amamos, com Joey, aquele cavaleiro solitário. Para no final podermos dizer, agora com Cesariny: "O navio de espelhos / não navega, cavalga / (...) Do princípio do mundo / até ao fim do mundo".
Paulo Esteves
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